Uma Noite de Terror
- Suzy Vieira
- 15 de abr.
- 4 min de leitura
Logo no início dos meus programas, eu ia pra Campinas todos
os dias na tentativa de resolver as minhas pendências. Todo e
qualquer dinheiro vinham para somar. O meu amigo Fabrício
tentava me ajudar por meio do MSN e de alguns contatos.
Estávamos no centro da cidade, quando um rapaz de moto
apareceu e perguntou ao meu amigo se eu era Garota de Programa. O meu amigo todo entusiasmado, disse que sim.
E já me chamou para conversar com o rapaz. Eu vejo o moço que não tira o capacete e não dá para identificar direito, ele automaticamente pergunta o valor
e meu amigo negocia. Eu penso que eu não quero ir, mas preciso.
O moço pede que eu suba na moto após a negociação com o
meu amigo, o qual não levava vantagem nenhuma, simplesmente queria me ajudar. Eu não tinha coragem de abordar os
homens e muito menos negociar.
Meio contrariada, eu digo ao meu amigo que tenho medo de andar de moto e que não sei para aonde ele vai me levar. O meu amigo
me olha bravo, querendo me dizer que vou faturar, que será rápido e que logo eu estarei de volta.
O rapaz meio sem paciência pergunta: "E então? Monta
aqui!!! Vai!!!".
Eu, muito sensitiva subo na moto receosa e peço para o meu amigo
me ligar se eu demorar; sinto-me insegura e apreensiva.
Eu não conheço as ruas de Campinas, nem sei onde ele está me levando,
mas penso nos compromissos e no dinheiro rápido.
Chegamos a um drive bem simples, não era de se esperar coisa
melhor. Afinal, ele negociou com o meu amigo em uma praça da cidade. Ele
tirou o capacete. Era um cara muito feio, moreno, magro, de cabelo bem
crespo e mal tratado. Ele pediu que eu tirasse a roupa e eu comecei a
tirar lentamente porque eu não estava gostando de estar ali com ele. Eu nem
cheguei a tirar toda a roupa e ele me olhou nos olhos fixamente e
sem piscar, ele se aproximou e tentou me beijar, beijos com mordidas, daquelas que doem. De repente, ele pega com as duas mãos no meu pescoço, me
apertando e me levantando contra a parede; eu me desespero, tento
tirar as mãos dele, ele era alto e tinha muita força.
Achei que a minha vida acabaria ali naquele momento...
(pausa) ... Até hoje, quando me lembro, tenho a sensação do aperto
na garganta.
Eu já estava sem forças e na certeza que seria o meu fim, quando ele me solta. Eu caí de joelhos eu tossia muito para respirar.
Ele sentou no canto da cama, abaixou a cabeça e, com as mãos
no rosto, chorava como uma criança, me pedindo desculpas, dizendo que a noiva dele havia terminado o relacionamento, e que naquele exato momento, ela estava nos braços de outro. E ele de raiva, queria se vingar dela. Eu ainda no chão, meio em choque, eu não falava, fiquei muda, sem muita ação. Fui me arrumando lentamente e saindo bem devagar, eu estava meio zonza.
eu nem pensei em dinheiro, só pensava em voltar para a minha casa.
Ele andava atrás de mim me pedindo desculpas.
O meu celular tocou e ele atendeu. Eu estava esquecendo até
o celular. Peguei da mão dele e não quis subir na moto. Ele me
lembrou do dinheiro, mas naquele momento eu percebi que o dinheiro não
era tão importante assim, eu acabei pegando aquele dinheiro
maldito! Sem olhar para o rapaz e saí andando, a portaria me
liberou na hora sem nenhum problema. Perdida, sem saber a onde eu estava, perambulo pelas ruas em busca de placas para me localizar. Por sorte eu pedi para o meu amigo me ligar quando eu subi na moto, creio que foi a minha intuição me avisando que eu ia precisar. O meu amigo me liga, e eu meio desorientada vou dizendo a onde eu estou, vou lendo aquelas placas no alto, igual de rodovias.
Tirei as botas de salto alto e andei só de meias sem parar, elas ficaram molhadas porque estava muito frio. Demorei muito para chegar, eu tossia muito, sentia medo e um frio extremo pois era uma noite de inverno e não se via quase ninguém
nas ruas.
Eu parecia estar em uma cena daqueles filmes de terror; eu temia
que o rapaz viesse atrás de mim.
Eu não sabia se rezava ou se agradecia. Pensava nos meus pais,
nos meus filhos, e me revoltava com a vida e com a "Justiça."
Não sei quanto tempo eu levei para chegar, contei tudo ao meu amigo que me aguardava, as minhas marcas no pescoço eram visíveis e eu percebi que poderia ter morrido, por um problema que não era meu. Elas eram a prova do que o ser humano é capaz de fazer no momento de raiva. Por isso muitas inocentes perdem
a vida, por um momento da raiva de alguém.
Depois desse ocorrido, eu mesma passei a negociar os meus
programas e eu nunca mais andei na garupa de um cliente, eu jamais
esquecerei o rosto daquele moço.

Hoje eu só frequento os hotéis que têm sistema de segurança e os motéis nos quais eu me sinto um pouco mais
protegida.
Obs: Infelizmente temos um caso recente aqui em um motel da cidade, óbito por esganadura, no momento que eu fiquei sabendo da notícia voltou um filme na minha cabeça revivendo aquela NOITE DE TERROR!
"NÃO...EU NÃO TENHO UM NOVO CAMINHO...
O QUE TENHO DE NOVO É O JEITO DE CAMINHAR..."
Suzy Vieira
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